A Enxada
Tião Brasil e Parentinho
De madrugada
Canta o galo no terreiro
Eu acordo bem ligeiro
E me levanto pra espiar
Pego a enxada
Lavro a terra o dia inteiro
Sou caboclo, sou roceiro
Vocês podem acreditar
Trago nas mãos
Alguns calos dessa luta
De lavrar a terra bruta
E ela quase me matou
Com minha enxada
A cuidei e pus semente
Mas da safra infelizmente
Só migalhas me restou
Do seu sertão
Todos têm muita saudade
Mas na verdade
Da enxada ninguém sente
Se eu precisar
Outra vez puxar a enxada
Eu não volto nem por nada
Me perdoe minha gente
Sei que essa coisa
De algum modo está errada
Sou eu quem puxo a enxada
E labuto pra plantar
Mas quando colho
Vão se os grãos e fica a palha
Fico só com minha tralha
Não sei a quem reclamar
E vem a chuva
Vem o frio e a geada
Pego trouxa e filharada
E vou pra cidade morar
Num bairro pobre
Faço bico o mês inteiro
Eu cansei de ser roceiro
E de pançudo sustentar
Do seu sertão
Todos têm muita saudade
Mas na verdade
Da enxada ninguém sente
Se eu precisar
Outra vez puxar a enxada
Eu não volto nem por nada
Me perdoe minha gente
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