Sinhá (caxias)

A Dor e a Resistência em 'Sinhá (caxias)' de Abadá Capoeira

A música 'Sinhá (caxias)' de Abadá Capoeira é uma poderosa narrativa sobre a vida dos escravos nas fazendas de cana-de-açúcar no Brasil colonial. A letra começa com a repetição do chamado à 'Dona Sinhá', uma figura que representa a senhora da casa grande, símbolo da opressão e do poder dos senhores de engenho. Esse chamado é um lembrete constante da hierarquia e da submissão imposta aos escravos.

A canção descreve vividamente o cotidiano dos escravos, desde o cheiro do lençol de lavanda na casa grande até o trabalho árduo de cortar cana sob o sol escaldante. A referência ao 'negro de Luanda' destaca a origem africana dos escravos, trazendo à tona a brutalidade do tráfico negreiro. A imagem do canto da lavadeira à beira do riacho no recôncavo baiano contrasta com a dureza do trabalho na fazenda canavieira, sugerindo momentos de breve alívio e resistência cultural.

A letra também aborda a injustiça e a violência do sistema escravocrata, com a colheita que enriquecia o senhor do engenho às custas do trabalho exaustivo dos escravos. A 'cascata de sangue jorrando' e o escravo amarrado ao tronco a noite inteira são imagens fortes que denunciam a crueldade dos castigos físicos. A captura do negro na capoeira pelo capataz simboliza a repressão das formas de resistência e a luta pela liberdade. 'Sinhá (caxias)' é, portanto, uma canção que não só retrata a dor e o sofrimento dos escravos, mas também celebra sua resiliência e resistência cultural através da capoeira e da música.