Haiti (part. Gilberto Gil)

A Conexão Brasil-Haiti na Visão de Caetano e Gil

A música "Haiti", uma colaboração entre Caetano Veloso e Gilberto Gil, é uma poderosa crítica social que aborda as desigualdades raciais e a violência sistêmica no Brasil. A letra começa com uma descrição de uma cena de violência policial contra pessoas negras e mulatas, que acontece em um local simbólico: o largo em frente à fundação Casa de Jorge Amado, um espaço que deveria representar a cultura e a história afro-brasileira. A repetição da palavra "pretos" e as variações "quase pretos" e "quase brancos" destacam a ideia de que, independentemente da tonalidade exata da pele, os não-brancos são marginalizados e tratados de forma brutal pela sociedade.

A música também critica a hipocrisia e a ineficácia dos políticos e líderes religiosos, que ignoram ou contribuem para a perpetuação da desigualdade e da violência. A referência ao "disco de Paul Simon" alude ao álbum "Graceland", que foi criticado por apropriação cultural e por gravar na África do Sul durante o apartheid. A frase "O Haiti é aqui" é um lembrete de que as atrocidades e a pobreza que associamos a lugares distantes, como o Haiti, também ocorrem no Brasil.

A música termina com um apelo à consciência e à solidariedade. Ao mencionar o Haiti, um país que enfrenta desafios históricos e sociais significativos, Caetano e Gil convidam o ouvinte a refletir sobre as semelhanças entre as injustiças lá e as que ocorrem no próprio solo brasileiro. A música é um chamado para reconhecer e agir contra a opressão e a desigualdade, onde quer que estejam.