Necrológio Dos Desiludidos do Amor

A Ironia Amorosa em Versos: Uma Análise de 'Necrológio Dos Desiludidos do Amor'

A poesia 'Necrológio Dos Desiludidos do Amor', de Carlos Drummond de Andrade, é um retrato irônico e crítico dos desenlaces amorosos e da dor que acompanha os corações partidos. O poema começa com uma imagem forte: os desiludidos do amor cometendo suicídio, uma metáfora para a intensidade da dor emocional que sentem. A fuzilaria ouvida do quarto do eu lírico sugere a proximidade e a frequência com que essas desilusões acontecem, como se fossem eventos cotidianos, banalizados pela sociedade.

A segunda estrofe do poema aborda a preocupação dos desiludidos em deixar uma imagem digna para trás, mesmo na morte. Eles escrevem cartas e tomam providências, preocupando-se com o remorso das amadas que os rejeitaram. Essa preocupação com a percepção alheia, mesmo após um ato tão definitivo como o suicídio, revela a ironia da busca por validação, mesmo na ausência de vida.

Por fim, o poema fecha com a imagem dos desiludidos sendo enterrados, suas paixões categorizadas como de 'primeira e de segunda classe', uma crítica à hierarquização dos sentimentos. A ironia se acentua com a descrição dos dentes de ouro, que, embora valiosos, não servem de nada após a morte. A última cena é das amadas dançando samba sobre as tumbas, uma expressão da continuidade da vida e da indiferença com a qual o amor e a dor são tratados. A poesia de Drummond, assim, reflete sobre a efemeridade do amor e a superficialidade das relações humanas, utilizando a morte como metáfora para a desilusão amorosa.