Bolero de Satã

A Dor e a Paixão em 'Bolero de Satã' de Elis Regina

A música 'Bolero de Satã', interpretada por Elis Regina, é uma obra que mergulha profundamente nas emoções intensas e conflitantes de um amor atormentado. A letra começa com a metáfora do sol da manhã, simbolizando a entrada de alguém na vida do eu-lírico de forma avassaladora e transformadora. Essa chegada é descrita como uma 'festa pagã', sugerindo uma celebração intensa e desregrada, onde a paixão e o desejo são libertados sem restrições. A figura da 'infernal cortesã' evoca uma imagem de sedução e perdição, indicando que esse amor, embora poderoso, traz consigo uma carga de sofrimento e tormento, associada a Satã.

No segundo verso, a partida dessa pessoa é comparada ao fim da manhã, trazendo consigo uma sensação de perda e angústia. A paixão que foi plantada é descrita como 'imortal e mal sã', indicando que, embora eterna, essa paixão é também destrutiva e insalubre. A ideia de que essa paixão será o 'maldito final' do eu-lírico sugere uma inevitabilidade trágica, onde o amor se transforma em uma fonte de dor e desespero.

O último verso intensifica ainda mais o sentimento de aflição e solidão. A imagem da 'seta do arco da noite' sangrando o coração do eu-lírico é uma metáfora poderosa para a dor emocional profunda e persistente. As lágrimas, sangue e veneno que correm no coração simbolizam a mistura de tristeza, raiva e amargura que consomem o eu-lírico, formando um 'pântano de solidão'. Essa descrição final encapsula a essência da música: um amor que, embora intenso e apaixonado, leva inevitavelmente à dor e à solidão.