Saudosismo

Saudosismo: A Nostalgia da Bossa Nova e a Realidade Desafinada

A música 'Saudosismo' de Gal Costa é uma ode à nostalgia e à memória afetiva, especialmente em relação à era da Bossa Nova. A letra começa com uma reflexão sobre o passado compartilhado entre o eu-lírico e seu amor, simbolizado por um violão guardado e uma flor, elementos que remetem à simplicidade e à beleza das coisas que foram deixadas para trás. A menção a 'João' é uma clara referência a João Gilberto, um dos ícones da Bossa Nova, e a 'vitrola' que gira sem parar simboliza a música que continua a tocar em suas memórias.

A repetição da palavra 'felicidade' sugere uma busca incessante por um estado de contentamento que parece sempre fora de alcance. A quarta-feira de cinzas, que marca o fim do Carnaval, é usada como uma metáfora para o fim de um período de alegria e o retorno à realidade. As 'notas dissonantes' que se integram ao 'som dos imbecis' podem ser interpretadas como uma crítica à banalização da música e da cultura, contrastando com a sofisticação da Bossa Nova.

A música também aborda a aceitação da realidade e a necessidade de seguir em frente, mesmo que isso signifique ser 'desafinado'. A expressão 'chega de saudade' é uma referência direta à famosa canção de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, que é considerada o marco inicial da Bossa Nova. No entanto, aqui, ela é usada para enfatizar a necessidade de deixar o passado para trás e enfrentar a realidade, por mais desafinada que ela possa ser. A repetição de 'lobo, lobo, bobo' pode ser vista como uma crítica à ingenuidade e à idealização do passado, sugerindo que é hora de acordar para a realidade presente.