Samba Enredo 1974 - O Rei de França Na Ilha da Assombração

O Rei de França e a Ilha da Assombração: Um Samba Enredo de Misticismo e História

O samba enredo "O Rei de França Na Ilha da Assombração", interpretado pelo G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro em 1974, é uma rica tapeçaria de elementos históricos, culturais e místicos. A letra começa com uma invocação religiosa, misturando crenças afro-brasileiras e católicas, o que já estabelece um tom de sincretismo e reverência às tradições ancestrais. A menção a Xangô, um orixá do candomblé, e às "preta véia", figuras respeitadas na umbanda, reforça a conexão com a espiritualidade afro-brasileira.

A narrativa do samba enredo nos leva ao Maranhão, onde a lenda do rei criança, que viu o reino de França, se desenrola. Este rei, provavelmente uma referência a Dom Sebastião de Portugal, é retratado como um monarca que transforma a natureza em um palácio de espelhos e candelabros, com a corte composta por indígenas. A letra cria uma imagem de um mundo irreal, onde a riqueza e a fantasia se misturam, refletindo a imaginação fértil do rei mimado. A rainha, descrita como uma deusa, e o reino encantado são símbolos de um desejo por um mundo idealizado e perfeito.

A canção também faz referência à lenda de Dom Sebastião, que desapareceu na Batalha de Alcácer-Quibir e, segundo a crença popular, retornaria para salvar Portugal. No samba, ele é representado como um touro negro coroado, uma figura mística que aparece na praia dos Lençóis. A meia-noite, Nhá Jança, uma entidade sobrenatural, desce do além em uma carruagem de fogo, trazendo consigo a riqueza e a nobreza. A escrava que se transforma em uma serpente de prata é uma metáfora poderosa, simbolizando a transformação e a dualidade entre a opressão e a beleza. Este samba enredo é uma celebração da cultura, da história e do misticismo, entrelaçando lendas e realidades em uma narrativa fascinante.