Rua do Poço Dos Negros

A Luta e a Resistência na Rua do Poço Dos Negros

A música "Rua do Poço Dos Negros" de Valete é uma poderosa reflexão sobre a experiência negra, o racismo estrutural e a luta por justiça. Valete inicia a canção com a repetição da frase "Preto como Jesus", uma metáfora que subverte a imagem tradicional de Jesus, destacando a negritude como algo divino e sagrado. Ele critica a tentativa de apagar a contribuição dos negros na história do rap, um reflexo do racismo estrutural que permeia a sociedade. A menção a George Floyd e a comparação da PSP com a Jihad no Cairo evidenciam a brutalidade policial e a violência sistêmica contra os negros, tanto em Portugal quanto globalmente.

Valete também aborda a hipocrisia dos que se dizem progressistas, mas que na prática não fazem nada para combater o racismo. Ele critica a idolatria de figuras como Kanye West e Beyoncé, preferindo ícones mais politicamente engajados como Rakim e Joacine. A referência a figuras históricas como Dom José e Maria I, comparando-os a Stalin, serve para destacar a brutalidade e a opressão que os negros enfrentaram ao longo da história. A repetição do refrão "Nosso povo ainda está na cruz" reforça a ideia de que a comunidade negra continua a sofrer e a lutar por justiça e igualdade.

A letra também explora a internalização do racismo, com alguns negros rejeitando suas próprias raízes e preferindo a subserviência. Valete denuncia essa mentalidade como uma forma de neo-escravidão. Ele conclui a música com imagens poderosas, como "Preto como o Holocausto negro no anonimato" e "Preto como o filho do estupro que nasceu mulato", que evocam a dor e o sofrimento históricos dos negros. A canção é um chamado à resistência e à valorização da identidade negra, um lembrete de que a luta pela justiça e igualdade ainda está longe de ser vencida.