euphoria

Provocação e autenticidade em "euphoria" de Kendrick Lamar

Em "euphoria", Kendrick Lamar utiliza o título de forma irônica, fazendo referência à série da HBO produzida por Drake para sugerir que seu rival vive em um mundo de ilusão e artificialidade, distante da autenticidade que Kendrick valoriza no hip-hop. Essa escolha já serve como uma provocação, conectando críticas à atuação de Drake fora da música e à sua suposta desconexão com a cultura negra. Isso fica claro no verso: “How many more black features till you finally feel that you're black enough?” (Quantas participações de artistas negros mais até você finalmente sentir que é negro o suficiente?), onde Kendrick questiona a busca de Drake por aceitação na comunidade afro-americana, insinuando que suas colaborações são tentativas superficiais de pertencimento.

A faixa tem um tom direto e confrontador, com Kendrick desmontando a imagem pública de Drake ao chamá-lo de “scam artist” (artista trapaceiro) e “habitual liar” (mentiroso habitual), acusando-o de manipulação e falta de autenticidade. Referências como “Tommy Hilfiger stood out, but FUBU never had been your collection” (Tommy Hilfiger se destacou, mas FUBU nunca fez parte da sua coleção) reforçam a ideia de apropriação de símbolos da cultura negra sem real pertencimento. Kendrick também menciona a tentativa de Drake de barrar a faixa “Like That” com um “cease and desist” (ordem de cessar e desistir) e ironiza sua postura diante de outros rappers: “I'm knowin' they call you The Boy, but where is a man? 'Cause I ain't seen him yet” (Eu sei que te chamam de O Garoto, mas onde está o homem? Porque ainda não o vi). O sample de Teddy Pendergrass na introdução traz uma camada emocional, contrastando com a agressividade da letra.

No final, Kendrick amplia a crítica ao questionar a influência de Drake na cultura e na indústria musical, sugerindo que sua música "pacifica" enquanto a de Kendrick "eletrifica". A repetição de “We don't wanna hear you say nigga no more” (Não queremos mais ouvir você dizer 'nigga') evidencia a crítica à apropriação cultural. Assim, "euphoria" vai além de uma diss track, tornando-se um manifesto sobre autenticidade, pertencimento e os limites da representatividade no hip-hop atual.